segunda-feira, março 23, 2009

CRISTOVÃO COLOMBO – O INIGMA (Christopher Columbus, the Enigma) de Manoel de Oliveira

Sinopse: Emigrado para os Estados Unidos por vontade de seu pai, nos anos 40, Manuel Luciano volta a Portugal para estudar. Regressa aos EUA já formado em medicina e, apaixonado pela investigação histórica, embrenha-se no mistério da verdadeira identidade de Cristóvão Colombo. Em Portugal, casa com a jovem Sílvia Jorge. Na companhia de Sílvia, Manuel percorre, em Portugal e nos Estados Unidos, os locais ligados aos descobrimentos portugueses, procurando desvendar o mistério que o inquieta desde a sua juventude. A demanda leva-os até à ilha de Porto Santo, onde Colombo viveu; ali, Manuel Luciano e Sílvia encontram indícios que os aproximam da verdade...

9 comentários:

Anónimo disse...

"Cristóvão Colombo - O Enigma" também é, ou sobretudo é, a história de um casamento. Muito francamente, isto parece-nos tão ou mais importante do que o resto. De resto, os mais espantosos momentos de "Colombo" são gerados por esse curso biográfico - falamos, por exemplo, da cena em Nova Iorque nos anos 40, e da genialmente engenhosa maneira com que o cineasta contorna a impossibilidade de fazer "reconstituição": primeiro, o nevoeiro, depois, ângulos de câmara cuidadosamente escolhidos, e eis como filmar contemporaneamente em Nova Iorque fingindo que se está nos anos 40. Também as cenas propriamente contemporâneas na cidade americana são surpreendentes - Manhattan filmada por Oliveira: eis algo que nunca sonhámos possível e que se revela, obviamente, numa Manhattan como nunca a vimos.
Independentemente destes momentos, que quase valem o filme todo, há que contar com a "projecção" de Oliveira no seu biografado. Ou com a "projecção" do casal Oliveira no casal biografado, visto que são eles, Manoel de Oliveira e a sua mulher, Dª Isabel, quem dá corpo a Luciano e Sílvia da Silva. A "confusão" assim gerada pode ser perturbante - e especialmente num longo plano de diálogo, com os dois de frente para a câmara, a dita "confusão" parece ser estimulada: ouvimos a conversa entre Luciano e Sílvia como se a representação não fosse nada clara, e a conversa pudesse ser (ou também fosse), entre Manoel e Isabel.
Isto é bastante poderoso, e praticamente dá a volta ao filme todo. O amor conjugal, a obstinação profissional, eis os "temas" de "Cristóvão Colombo", eis o seu "enigma". Colombo, em absoluto sentido hitchcockiano, talvez não passe de um "macguffin". - Luis Miguel Oliveira

Anónimo disse...

Superficialmente (para mim), o filme é sobre o recontar de uma biografia conhecida mundialmente, seguindo com esse objectivo as vidas do casal que estudou o tema. Em análise mais profunda, o filme fala de “ligações”. Trata de ligar assuntos, temas, lugares e, especialmente, memórias. É por isso que a história fala de ligar pontas soltas, temas históricos mal explicados. Os planos separados estão também interligados. É por isso que temos um plano que observa o mar em Dighton que vem a corresponder a um que observa o Atlântico no Porto Santo; ou planos que olham através de janelas em vários lugares ao longo da viagem. Num plano em particular, uma ponte é atravessada no Alentejo, uma ponte de ferro, e é filmada de uma forma de todo semelhante ao que Oliveira fez com a ponte D.Luiz no “douro faina fluvial”, isto é a sua própria memória cinematográfica. Visão… Memória, Amor, Luciano ama a sua mulher e a sua pesquisa, Oliveira ama a sua mulher, e o cinema…

Anónimo disse...

“(...) uma espécie de auto-retrato desconstruído do próprio cineasta, perturbador e apaixonante como raros o foram na história do cinema. Grande filme.” - Francisco Ferreira

Anónimo disse...

Manoel de Oliveira mostra o mesmo olhar lúcido e apaixonado.”
Manuel Cintra Ferreira, Expresso

Anónimo disse...

Planos simétricos, enquadramentos fixos, poucas personagens, tudo no novo filme de Manoel de Oliveira, usando uma parcimônia maior do que o habitual e simultaneamente dando provas de uma vitalidade física e intelectual, movimentando-se tanto à frente como atrás da câmara, quando estava quase nos dois séculos de existência.

Visitando os lugares históricos, Manuel e Silvia iniciam um périplo "a la recherche" de Cristovão Colombo: Cuba, vila portuguesa onde eventualmente terá nascido o navegador, e que terá dado o nome à ilha das Antilhas, depois o Algarve, a costa leste americana e finalmente Porto Santo, onde o marinheiro fez escala; viagem continuada nos monumentos, onde é encontrada a história de um passado glorioso, a idade de ouro do império lusitano, frequentemente evocado por Oliveira, singularmente com "Non, ou a Vã Glória de Mandar" (1990) e "Palavra e Utopia" (2000). História recolhida pelos poetas atestando qeu os navegadores, os portugueses, foram os primeiros a fazer do mundo uma totalidade.

Essa História, agora numa procura meditação sobre a origem do descobridor da América, sombolicamente incarnada na pessoa do cineasta, como guardião da memória nacional.

A nostalgia do império (ou da juventude) sem esperança de regresso, envolvendo nos filmes do desejadouma desesperança a que só resta o oceano mar, idêntico dum continente ao outro.

Com uma grande sobriedade, quase importuna para o seu trabalho anterior, Oliveira dá-nos um vazio inexorável das desaparições inevitáveis, continuando uma introspecção, possivelmente começada com "Viagem ao Princípio do Mundo" (1997).

Vem a propósito lembrar as palavras de Manoel de Oliveira, numa entrevista ao Público / P2 de 24.03.07: "O homem sem memória não é gente. E a História não é mais do que a memória.
Hoje procura-se conecer os antecedentes de tudo, até dos animais. Isso é importante para saber quem somos, onde estamos, como vivemos, para perceber tudo o que nos rodeia". - jm.

Anónimo disse...

O filme apenas dura 70 minutos e consegue discutir um assunto em profundidade. Os tempos são lentos, os planos duram o que precisam durar e ele promove a síntese do conjunto através de elipses poderosas. Grande Manoel, próximo do centenário e com a mente tão jovem e aberta. E, no Brasil, tantos velhos na faixa dos 20 ou 30 anos. Isso é mais triste que um fado da Amália Rodrigues. - Por Orlando Margarido - Brasil

Tomás disse...

enquanto hollywood nos vai enchendo a cabeça com memórias falsas de cenários inventados de tempos inventados e estereotipados

o manoel, verdadeiro, sincero, mostra-nos o arquétipo
tudo o que podemos recordar
sem invenar história

a história de portugal

Anónimo disse...

Agradeço ao Cineclube por nos ter trazido esta pérolazita

Carlos Faria disse...

achei que os textos não estavam muito bem conseguidos, mas a forma de filmar lisboa e NY nos anos 40, a fotografia e os enquandramentos, bem como o ritmo da música e os diálogos tem um cadência espectacular. Já não via um filme de oliveira há varios anos e ia com algum medo. gostei do filme e muito.