Sinopse: Pietro Paladini, executivo de uma empresa audiovisual, salva, na companhia do irmão, duas desconhecidas de morrer afogadas. No entanto, quando Pietro regressa a casa depara-se com a trágica morte da própria mulher. O incidente marca profundamente a vida do executivo que tem agora que reformular abruptamente as suas prioridades. Decide então dedicar-se ao cuidado da filha, chegando até a instalar-se em frente ao seu colégio, num parque que passará a ser o seu local de trabalho. Ano: 2008
domingo, fevereiro 15, 2009
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4 comentários:
O Vaticano e os "Cahiers du Cinéma" ficaram chocados com a cena de "Caos Calmo" que nos mostra os fantasmas sexuais de Nanni Moretti - é claro: da personagem interpretada por Nanni Moretti, Pietro Paladini, que no mesmo dia em que salva uma mulher de morrer afogada na praia chega a casa e descobre-se viúvo.
O que une o Vaticano e uma revista que já foi um farol de cinefilia não será para aqui chamado - ou, por pudor, não queremos que seja para aqui chamado. Vamos no entanto pormenorizar: o Vaticano, e recordamos a polémica na altura da estreia italiana do filme, condenou a ausência de sentimentos, emoções, de uma sequência que considerou animalesca; os vetustos "Cahiers" consideram a coisa... "abjecta" - o plano da mão de Moretti a segurar a cabeleira de Isabella Ferrari (que interpreta a mulher que Pietro Pallavicini salvou) foi demais para eles.
Se se disser que esta sequência é onírica q.b., que nada nos garante que de facto aconteceu na vida de Pallavicini, que é mais sonhada e desejada do que outra coisa, aproximamo-nos da questão: já tínhamos estado no "Quarto do Filho", aqui entramos no quatro de Nanni, de uma das declinações do ser "morettiano" que o actor/ realizador vem trabalhando há décadas. Estamos com fantasmas.
Foi o facto de o filme ter aberto as portas da intimidade - e não é a intimidade de qualquer pessoa, é a intimidade de alguém que já tinha sido pai, mas mesmo como marido nunca fora amante; ou seja, falamos de uma "persona" cuja dimensão sexual era sempre ilidida -, que chocou. Não se diz que nunca se deve chegar demasiado perto das pessoas que admiramos? Para alguns as ondas de choque tiveram o efeito de um corte epistemológico, se bem que, como se diz também nas entrevistas que publicamos, o cinismo e a abjecção foram domadas para o filme, que nos mostra um Pietro Paladini menos cínico. E uma cena de sexo menos... brutal.
De qualquer forma: sabemos agora como Nanni Moretti faz sexo. "Caos Calmo", portanto, continua a trabalhar uma "persona". O filme não foi realizado por Nanni, mas por Antonello Grimaldi - só que Moretti é um autor do argumento, baseado num livro de Sandro Veronesi, livro esse que já era "morettiano" antes do filme. Portanto, a "persona" é um "a priori", e é naturalmente vampírica, mas isso não é novidade.
Nestes avanços para que "Caos Calmo" colabora, aumentando os limites que tínhamos como seguros para uma "persona", não está só o sexo. Habituados que estamos a uma figura que esbraceja, a um corpo sobretudo reactivo, encontramos agora - o processo não começa neste filme, já estava em "O Quarto do Filho", mas agora é sublinhado - um momento de pausa. No filme, como no livro, Pietro Paladini imobiliza-se, depois da morte da mulher, frente à escola da filha.
Literalmente: senta-se num banco de jardim, que passa a ser o quarto da sua vida. Como ele pára, tudo à volta parece aumentar de velocidade, derrapar. A neurose e a loucura "morettianas" parecem, aliás, disseminar-se pelos outros (a cunhada, o irmão...), como um vírus, como uma energia que tem de encontrar novos territórios para se espandir. É nesta coexistência de tempos que Grimaldi ancora este filme sombrio, algo fantasmagórico apesar da sua aparente leveza - tudo começa, aliás, como um comédia de Dino Risi, dois homens, Moretti e Alessandro Gassman, num carro. É claro que o filme podia dar-nos menos música - a de Rufus Wainwright e dos outros. - Vasco Câmara
Não é exactamente um filme de Nanni Moretti, apesar da sua presença no papel principal e da sua co-autoria no argumento, mas podia ser, porque é impossível não ver nele o Moretti que nos habituámos a ver em filmes anteriores. Porque, enfim, "Caos Calmo" é uma variação sobre o sublime "O Quarto do Filho" que se podia chamar "O Banco do Pai": aqui, é não o filho mas a esposa que morre repentinamente enquanto Pietro está na praia com o irmão a salvar uma senhora de morrer afogada. A única maneira que ele encontra de lidar com a questão é eleger o jardinzinho em frente à escola primária da filha como o novo centro do mundo, lambendo as suas feridas com placidez, concentrandose no que é realmente importante - a filha que não quer mais largar dos olhos.
O que se segue é um melodrama elegante em tom levemente efabulatório, mais à vontade no tratamento emocional do drama do viúvo que procura recomeçar a vida do que na trama paralela dos jogos de escritório que rodeiam a fusão da estação onde Pietro trabalha, transportado pela interpretação soberba de um Moretti que revela ser actor de muitos mais recursos do que os seus próprios filmes muitas vezes lhe pedem. - Jorge Mourinha
Não vejo nenhum motivo para a cena em causa ser polémica, até nem é arrojada e não justifica qualquer classificação de >18 anos como indicado.
O filme é mesmo uma calma forma de ultrapassar um choque emocional forte... com várias subtilezas e tipicamente italiano no género
gostei muito principalmente da primeira parte do filme
em que tudo acontecia de forma natural
é pena quando o argumento segue certos caminhos para parecer mais apelativo (a empresa, o sexo...)
as coisas mais simples sempre as melhores
e o nanni moretti sabe isso muito bem
mas apenas como actor não pode fazer grande coisa, a não ser, ser um excelente actor
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