terça-feira, novembro 10, 2009

ABRAÇOS DESFEITOS (Los Abrazos Rotos), de Pedro Almodóvar

Sinopse: Um homem escreve, vive e ama na escuridão. Catorze anos antes, foi vítima de um brutal choque automóvel, na ilha de Lanzarote. No acidente, não só perdeu a vista como também Lena, o amor da sua vida. Este homem usa dois nomes: Harry Caine, um pseudónimo com que assina os seus trabalhos literários, histórias e argumentos para cinema, e Mateo Blanco, o seu verdadeiro nome, com o qual vive e assina os filmes que dirige. Depois do acidente, Mateo Blanco reduz-se a si próprio ao seu pseudónimo, Harry Caine. Se não pode realizar mais filmes, só consegue sobreviver com a ideia de que Mateo Blanco morreu em Lanzarote com a sua amada Lena. Nos dias de hoje, Harry Caine vive graças aos argumentos que escreve e à ajuda da fiel e antiga produtora, Judit García, e do filho desta, Diego, o seu secretário, escrivão e guia. Desde que decidiu viver e contar histórias, Harry é um cego activo e atraente, que desenvolveu todos os outros sentidos para melhor gozar a vida, na base da ironia e da amnésia selectiva. Ele apagou da sua biografia todos os traços da sua primeira identidade, Mateo Blanco. Uma noite, Diego tem um acidente e Harry toma conta dele, já que Judit está fora de Madrid e os dois decidem não a avisar, para não a alarmar. Durante as primeiras noites de convalescença, Diego pergunta-lhe pelo tempo em que respondia pelo nome de Mateo Blanco. Depois de um momento de surpresa Harry não consegue recusar e conta a Diego o que aconteceu catorze anos antes, da mesma forma que um pai conta a um filho uma história para adormecer... Data de exibição: 10/11/2009

1 comentário:

Anónimo disse...

Em Abraços Desfeitos, Almodóvar volta a algumas das suas mais antigas obessões. Duas são especialmente bem conseguidas - mesmo que o tenham sido ainda melhor noutros filmes seus. O passado como influência profunda do presente, ou a forma como o presente se percebe todo no passado, é recorrente na sua obra. A cada filme que passa, há uma obsessão contínua de começar no presente algo que se configura como incompleto e que só o passado pode explicar. Almodóvar podia fazer o filme no ontem ou centrar o filme no hoje. Mas é a consequência do primeiro sobre o segundo, mais do que a confrontação ou a necessidade narrativa, que verdadeiramente interessam. Outra antiga, e constante obsessão de Almodóvar, é o cinema. Aqui revisita-se também a si mesmo. Há mais Almodóvar naquela noção quase pirandelliana de filme dentro do filme do que no próprio filme. O ritmo do filme de Mateo é o de Almodóvar. Que o filme acabe com a reconstituição de um filme assim é merecido e sintomático.