quinta-feira, outubro 08, 2009
FOME (Hunger), de Steve McQueen
Sinopse: Irlanda do Norte, 1981. Raymond Lohan faz, exausto, a sua rotina diária de guarda prisional num dos terríveis H-Blocks da cadeia de Maze, um autêntico inferno para guardas e reclusos. Davey Gillen, um novo prisioneiro acabado de chegar, apesar de aterrorizado, recusa-se a vestir o uniforme da prisão - ele não é um criminoso qualquer. Juntando-se ao "protesto do cobertor", Davey partilha uma cela imunda com outro republicano inconformado, Gerry Campbell, que o guia na nova vida de recluso e o ensina a fazer contrabando através do líder do bloco Bobby Sands. Um motim irrompe na prisão... Data de exibição: 13/10/2009 - 21H30
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3 comentários:
Quem vier a "Fome" à espera de mais um filme sobre os "troubles" da Irlanda da Norte pode desde já tirar daí o sentido. Ao artista plástico Steve McQueen e ao dramaturgo Enda Walsh o que interessa é isolar um universo particular e usá-lo como centro de uma meditação sobre o humano, justapondo o guarda prisional que enfrenta o seu quotidiano de modo regulamentado aos prisioneiros que lhe contrapõem o caos, num jogo de equilíbrios entre o idealismo e a hipocrisia, o pragmatismo e o entusiasmo, que tem a violência como fiel da balança.
Mas "Fome" é também um filme sobre religião, sociedade, fé, crença, empenho, orgulho, como fica explícito no electrizante plano único onde Bobby Sands e o padre Dominic discutem o porquê da greve da fome em que o prisioneiro se vai empenhar - o momento onde "Fome" se revela como um objecto que recusa as convenções da narrativa convencional, optando por um estatuto de "instalação narrativa" meticulosamente encenada mas que nem por isso deixa de ser cinema de altíssima craveira, de um impacto visceral e inescapável. Está aqui não apenas a revelação de um cineasta, está aqui um dos filmes do ano.
Já visitei três prisões ditas civilizadas, numa das quais trabalhei por mais de 1 ano. E é difícil imaginar aos extremos a que se pode chegar num estabelecimento prisional quando as ordens assim o impõem e a bestialidade humana se sobrepõe à razão. A crueldade e amorfismo emocional que faz com que seres humanos tratem outros seres humanos de uma forma tudo menos... humana. Os fanatismos nunca levaram a lado nenhum, mas as guerras ideológicas e religiosas terminam tantas e tantas vezes assim... Um filme a não perder por qualquer pessoa com consciência social ou curiosidade.
Um filme impressionante, a que não se consegue ficar indiferente. Mostrar os vários prismas envolvidos na violação dos direitos humanos, quando se trata de terroristas, transporta-nos para um mundo que dificilmente conseguimos imaginar... Vale mesmo a pena!
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